quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Leia este editorial do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE

Diversidade biológica


20/10/2010
O patrimônio brasileiro, formado pelos ecossistemas marítimos e costeiros, é um dos maiores do mundo e tão expressivo não conseguiu ainda levantar suas espécies marinhas. Esse é um dado que será apresentado na décima Conferência das Partes (COP 10), da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas, que foi aberta segunda-feira em Nagoya, no Japão, e se encerra no fim da próxima semana. Uma de suas atrações será a apresentação do maior estudo global sobre biodiversidade dos mares. Este censo marítimo envolveu 2,7 mil cientistas e exigiu dez anos de pesquisas.

O Ministério do Meio Ambiente admite que o bioma marítimo constitui uma grande lacuna do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Outros países signatários da Carta da ONU também enfrentam semelhantes dificuldades técnicas em levantar seus recursos. Por isso, menos de 1% dos oceanos está protegido, até agora, quando a meta seria a identificação de 10% até 2012. Essa falta prejudica que sejam firmados acordos internacionais para a preservação dos ecossistemas e de proteção às espécies vivas, temas tão polêmicos quanto o aquecimento global.

O País avançou nesse compromisso internacional em relação à Amazônia. A meta de 30% foi cumprida com folga, considerando que mais de 40% da floresta já gozam de proteção, englobando terras indígenas e unidades de conservação federais e estaduais. A questão maior, no entanto, reside nos 4,2 milhões de quilômetros quadrados do território nacional cobertos por água, que continuam desconhecidos.

Com 10,8 mil quilômetros de costa, o País dispõe de variadas combinações de ecossistemas, mas faltam pesquisadores para estudá-las. Por isso, a carência de informações científicas sobre o que existe debaixo d´água impede a elaboração de estratégias e até de medidas de proteção marinha. Nesse frágil ambiente, a proteção exclusiva é mínima, limitando-se às áreas próximas da costa, como praias e manguezais.

O Brasil não conseguiu, ainda, mapear, conservar e defender sua biodiversidade marinha, expondo-a, por essa razão, à cobiça da exploração comercial estrangeira. Quando os meios lícitos impedem os avanços de aproveitadores, apela-se para o contrabando. A dimensão dessa riqueza pouco protegida se projeta por alguns itens: o País dispõe de 15% das espécies conhecidas de vertebrados e de 13% dos insetos do mundo.

Entre os "invertebrados não insetos", o contingente de apenas 6%, a maioria vivendo no mar como as águas-vivas, polvos, lulas, caranguejos, lagostas, corais, mariscos e esponjas. O domínio científico e tecnológico dessa riqueza, além de insuficiente, se concentra no Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Faltam informações e a divulgação sobre a realidade marinha do Nordeste e, especialmente, do Norte.

O governo lançou recentemente a Política Nacional de Ciência e Tecnologia, voltada para o financiamento dos estudos relativos a seu potencial estratégico com vista às próximas décadas. A vida marinha tem tudo para se enquadrar nessa expectativa de racionalização do aporte de recursos nacionais para o domínio do potencial ainda inexplorado.

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